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Os idiotas de plantão e a estética do absurdo

Os idiotas de plantão e a estética do absurdo

Nelio Sander
Por: Nelio Sander
09/03/2025 às 10h17 Atualizada em 09/03/2025 às 10h28
Os idiotas de plantão e a estética do absurdo
João Zisman

Há um tipo peculiar de criatura que habita as redes sociais e os blogs sensacionalistas. Eles não têm ideias, não têm argumentos, não têm sequer um propósito nobre ou mesquinho. O que têm, no entanto, é um talento para a provocação vazia, um prazer doentio em causar inquietação pública e um compromisso inabalável com a irrelevância ruidosa. São os idiotas de plantão, os discípulos da estética do absurdo.

A estética do absurdo, aliás, merece um parágrafo à parte. No teatro existencialista de Camus e Beckett, o absurdo era uma ferramenta para expor o vazio da existência e os dilemas da condição humana. No mundo digital, porém, esse conceito foi sequestrado e reduzido a algo muito mais raso: a busca desesperada por atenção. Publica-se uma teoria estapafúrdia, um disparate lógico, uma ofensa gratuita, e aguarda-se ansiosamente a indignação da plateia. Cada comentário de repúdio, cada compartilhamento irado, cada reação indignada são como aplausos para o artista da mediocridade.

O fenômeno tem raízes psiquiátricas evidentes. A necessidade incessante de chamar atenção, mesmo que de forma negativa, remete a traços de transtornos de personalidade narcisista, histriônica e até mesmo antissocial. Para essas mentes carentes de significado, a lógica não importa, os fatos são acessórios e a coerência é um luxo que eles nunca se deram ao trabalho de considerar. O que vale é o choque, a disruptura pelo caos, a construção de um espetáculo onde eles são os protagonistas e a sociedade, a audiência refém.

Os blogs sensacionalistas são o habitat natural desses indivíduos. Eles não se preocupam com a verdade, tampouco com a responsabilidade. A manchete é sempre um atentado à inteligência: um título escandaloso, uma insinuação rasteira, uma distorção descarada. O objetivo não é informar, mas provocar, desestabilizar, empurrar o leitor para um estado de inquietação constante. Afinal, uma sociedade irritada, ansiosa e polarizada é o ambiente perfeito para que esses parasitas midiáticos prosperem.

E assim seguimos, cercados por esses artistas da estupidez, esses bufões da era digital. Mas há um antídoto contra essa praga: o desprezo. Porque nada destrói mais um provocador vazio do que a indiferença. Eles vivem da sua atenção, do seu engajamento, da sua raiva. Retire tudo isso e o espetáculo se encerra.

E então, talvez, possamos finalmente voltar a um tempo em que as ideias importavam mais do que os ruídos.

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JOÃO ZISMAN
JOÃO ZISMAN
Natural de Recife, João Zisman, possui uma trajetória consolidada no setor público e na comunicação. Economista de formação, ele tem especializações em Ciências Políticas e Gestão Pública e é também jornalista por profissão.

Com passagens por importantes cargos no governo federal e no Distrito Federal, como assessor especial na Casa Civil da Presidência e na Secretaria de Relações Internacionais.

João Zisman ocupa a função de Secretário Municipal de Comunicação e Relações Institucionais na Prefeitura de Foz do Iguaçu - Pr
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